Quando o coração faz tum tum tum de Timbalada

29 de jan. de 2017
Outro dia li em algum lugar que toda vez que a gente recorda algo, estamos, na verdade, lembrando da última vez em que estivemos pensando naquilo. Como se a cada vez que voltássemos ao passado estivéssemos o apagando aos pouquinhos até não termos mais certeza de nada. Quando eu lembro de uma praia especial regada a breja com os amigos, estou lembrando da última vez em que lembrei da breja com os amigos na praia. E sim, essa explicação está confusa, mas nada comparado ao meu cérebro fazendo cálculos sobre a seriedade dessa informação.

É o mesmo que dizer que nunca, jamais, em hipótese alguma iremos sentir, mesmo que em pensamento, uma determinada sensação outra vez. Ela pode se repetir, claro, mas não vai ser a mesma coisa porque tudo que a gente enfrenta vira história. Não vai ser o mesmo ímpeto de coragem nem a mesma dorzinha de tristeza. O meu impulso depende do que me espera ali na esquina e estou sempre redescobrindo o que me põe para baixo, o que me faz voltar algumas casas. Já parou pra fazer as contas de quanta coisa já não te afeta mais? A idade simplesmente projeta num telão o que vai ser prioridade daqui a pouco. Tem medo que perde o sentido.

Não lembrar com fidelidade os detalhes que fizeram daquele diálogo, sexo ou pôr do sol mágicos é pura crueldade para mim. Tudo culpa da ciência, das forças maiores que regem o mundo e do desenrolar da  própria vida, que nos obriga a esquecer e superar. É um bombardeio de toques, cheiros e gostos novos. São nossas memórias afetivas cada vez mais mínguas e superlotadas ao mesmo tempo. Guardadinhas num lugar especial que vai ficando cada vez mais cheio, abarrotado ao ponto de pedir socorro. No aguardo de uma ordem de despejo para que outras mais recentes ocupem o primeiro lugar na fila. Parece frio, mas eu acho incrível essa ideia. É uma busca pelo melhor a cada dia.

Será, então, que o segredo reside na despedida? Diga adeus aquele frio na barriga que fez de um beijo um abalo cósmico no espaço-tempo. Diga adeus aquele quentinho que fez de um abraço uma espécie de lar. Diga adeus aquele sorriso gigante que fez de você tão pequeno ao ponto de se encaixar perfeitamente ali. Diga adeus aquela adrenalina que vez você sentir o tum tum tum do coração nos ouvidos, sussurrando um "é isso aí". Não acredito num adeus ruim, acredito num "ok, foi bom, mas e agora?".

Dar tchau é revigorante. É você saindo do lugar, movendo-se rumo ao próximo destino. Uma cidadezinha que, caso você esteja preparado para explorá-la, vai render, no mínimo, mais uma pilha assustadora de experiência e acontecimentos memoráveis. Não é fácil você fazer uma escolha diferente daquela que te fez feliz por tanto tempo, mas insistir em metades é tão idiota. Eu vejo pessoas presas ao que não é saudável por medo de solidão, quando existe um mundo inteiro nas proximidades. Inteiro. O que importa de verdade sempre dá um jeito de vir à superfície. Deixemos o tempo trabalhar nesse sistema de apagar e reescrever. O dia seguinte nos reserva um beijo muito bem encaixado, um abraço maior que o mundo e um sorriso que cega, mas guia por vielas nunca antes vistas. Investir em mais do mesmo não soma. O tum tum tum que eu mencionei acima só fica mais forte ao ponto de se confundir ao som do Timbalada. Vamos dançar o amor. Vamos compor o próximo disco.

Ainda mastigo essa ideia de não lembrar muito bem de situações, veja que ironia, classificadas por mim como "inesquecíveis", mas acredito que por essa mesma razão a gente acaba perdoando mais fácil, mais rápido. A gente acaba não remoendo tanto algo pavoroso que nos afligiu porque a cada instante algo mais urgente empurra isso para o fundo. Não faz muito sentido sofrer pela cópia da cópia de uma decepção, faz?

2 comentários:

  1. ai que texto lindo, forte e verdadeiro. ����
    tu escreve mt!!!!

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