[Resenha] Quando finalmente voltará a ser como nunca foi - Joachim Meyerhoff

25 de jun. de 2016
Quando finalmente voltará a ser como nunca foi - Joachim Meyerhoff
ISBN-10: 8565859975
Ano: 2016
Páginas: 352
Editora: Valentina
Classificação: 
Página do livro no Skoob
Isso é normal? Crescer entre centenas de pessoas com deficiência física e mental, como o filho mais novo do diretor de um hospital psiquiátrico para crianças e jovens? Nosso pequeno herói não conhece outra realidade - e até gosta muito da que conhece. O pai dirige uma instituição com mais de 1.200 pacientes, ausenta-se dentro da própria casa quando se senta em sua poltrona para ler. A mãe organiza o dia a dia, mas se queixa de seu papel. Os irmãos se dedicam com afinco a seus hobbies, mas para ele só reservam maldades. E ele próprio tem dificuldade com as letras e sempre é tomado por uma grande ira. Sente-se feliz quando cavalga pelo terreno da instituição sobre os ombros de um interno gigantesco, tocador de sinos.
Resenha:
Se tivéssemos um dom acima da média para a escrita e uma percepção aguçada para decifrar as entrelinhas de algumas atitudes de quem a gente ama, é possível que cada um de nós fosse capaz de escrever um livro igual a esse. Se não igual, bem parecido. Porque é isso que Joachim Meyerhoff faz, ele descreve com um olhar extremamente delicado e doloroso a rotina de uma família que poderia ser a nossa, mas não é por incontáveis pequenos grandes detalhes. 

Por mais assustador que pareça, enxerguei a mim e a minha família em diversas situações apresentadas no livro. Tive uma certa dificuldade no começo da leitura por buscar a grande problemática que guiaria a narrativa, mas ela simplesmente não existe. A vida do protagonista é o grande problema e ela nos leva junto. O ambiente em que ele cresce é que parece ser o eixo: um hospital psiquiátrico. 

Imagine que seu pai é um médico competente, apaixonado pelo que faz e que resolveu fincar raízes no centro de um manicômio para poder cuidar de perto de todos os seus pacientes. Imagine que você, seus irmãos e sua mãe possuem uma vida totalmente moldada a atmosfera que um local como esse tem. Ao invés de ouvir o farfalhar das folhas das árvores ou a cantoria dos grilos na calada da noite, o único som que você escuta são gritos. Gritos vindos de todas as alas e prédios ao redor de onde você dorme. Gritos de dor e sofrimento. Sua canção de ninar particular. Imagine que seus vizinhos são loucos, possuem os mais variados distúrbios e você aprende a gostar de cada um deles. A maioria dos seus relacionamentos são assim: com pessoas que já não sabem distinguir o certo do errado. Mas que possuem histórias. E elas fazem desse livro algo delicioso de ler.

A situação é essa e quem a narra é Joachim, o filho caçula. Ele passeia pelo tempo destrinchando memórias e revivendo sentimentos. Joachim nos apresenta a loucura. A loucura presente em cada um de nós. E durante cada capítulo que vi ele e todos ao seu redor perdendo o controle e a razão, pude perceber que é pouco o que nos mantém sãos. Porque eu sei o quanto a vida às vezes pesa e tudo o que precisamos é extravasar. Nessa família, o lar não me pareceu ser o lugar mais seguro ou confortável para nenhum dos membros. E mesmo assim, com todos os surtos externos e internos, o que sempre os uniu foi o amor. O amor por fazer parte de algo. O tipo de conexão que não se encontra facilmente na rua. Ah, mas a rua também esconde segredos de uma família.

O pai de Joachim é todo teoria. Já a mãe prática. Para o velho, viajar era mais interessante nas páginas de um livro. Para ela, a mão na massa, o vento no rosto e a Itália. Sempre. Os irmãos de Joachim não fugiram muito da realidade. Sempre prontos para uma encrenca, uma disputa. Cada um com sua personalidade, todos contribuem de alguma forma para o clima perturbador que a história tem. Eu me vi rindo e com os olhos cheios de lágrimas. É comovente. Nem de longe é uma escrita fácil ou leve. Não sei se faz algum sentido, mas o fato do autor ser alemão foi a explicação que me dei para a narrativa tão densa. Foi uma experiência diferente.

Acredito que a grande pergunta e reflexão que fica é se tudo que eles vivem é motivado pela inserção nesse ambiente de loucos ou se já é algo intrínseco ao ser humano. Não resta dúvida de que somos todos meio birutas. A loucura está do lado dentro. Da gente.

Um comentário:

  1. Solicitei este livro hoje, e devo dizer que estou ainda mais apaixonado agora que li sua resenha. MEUDEEEEEUS. Topa fechar uma parceria ? <3 Se sim, entre em contato por aqui: portalcatracaseletiva@gmail.com

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